Por uma transformação real do cenário profissional
Amigos leitores,
Bom, o texto deste dois de junho é bem provocador, sem a intenção de ser ofensivo e, certamente, a escolha das palavras fará toda a diferença. Como sabem, tenho formação acadêmica em Secretariado Executivo e por muitos anos tenho estado no ambiente secretarial, nos debates da categoria e participado, sempre que possível, dos eventos.
Entretanto, quem está mais próximo das produções acadêmico-científicas da profissão não lê meu nome com muita frequência e provavelmente não me conhece. É porque eu me frustrei com o jeito de transformar o cenário profissional feito nos moldes tradicionais. Ok, antes de explicar o porquê do meu texto de hoje, vou contextualizá-los sobre “o que” me trouxe até aqui.
Ontem, meu amigo, professor e profissional Jefferson Sampaio, que acaba de concluir seu Mestrado Acadêmico em Direitos Humanos e possui graduação em Secretariado Executivo e licenciatura em Ciências Sociais, escreveu um texto questionador sobre o tipo de ciência que está sendo feito na área de Secretariado no Brasil.
Para quem quiser ir mais fundo no que ele escreveu e, obviamente, traz muito mais referências acadêmicas do que meu singelo texto de hoje, acesse o link: http://www.jeffersonsampaio.com/2018/06/por-uma-metodologia-aplicada-construcao.html?m=1 – Texto: “Por uma metodologia aplicada à construção do conhecimento secretarial”.
Sigamos, então: embora eu tenha nascido no Secretariado e ensaiado ingressar na produção acadêmica com poucas produções (três para ser exata), todas aprovadas em eventos acadêmicos (2008 – CONSEC; 2010 – CONSEC; e 2011 – SeGet – este um evento de Administração no Vale do Paraíba – sul do estado do Rio de Janeiro), ano passado recobrei a consciência sobre os motivos que me fizeram abandonar esse caminho, embora eu manifeste todo o meu respeito pelas pessoas que investem na ciência como forma de produção de conhecimento e *transformação da realidade do cenário que desejam modificar.
Quem me acompanha nos últimos três anos, tem visto que todo meu trabalho tem tomado um corpo mais profissional, mais aplicado e, não abrange mais somente o público secretarial. Isso também é algo que não gosto. Minha natureza não gosta de limites, de rótulos, de nenhuma caixa. Por isso meu blog também não abrange apenas textos voltados a essa temática. Eu sou profissional e, por acaso, minha formação é em secretariado executivo. No entanto, assim como você que me lê, sou, penso e faço muito além do que a mera formação acadêmica me outorgou.
Mas como é um meio no qual circulo muito ainda, muitos aspectos me incomodam. Vocês sabem que atualmente eu desenvolvo um trabalho de mentoria de carreira no qual me proponho a auxiliar profissionais que desejam ingressar ou melhorar seu desempenho na jornada profissional por meio de um programa desenvolvido e aplicado por meio da empresa Iventys Educação Corporativa. Pois é, ano passado, como parte da finalização do processo de uma mentorada, escrevi um artigo em co-autoria para ser submetido a um importante congresso da categoria.
Por estar há anos sem escrever artigos científicos e por ter um estilo de comunicação mais interativo, pessoal e opinativo, obviamente eu já imaginava a grande possibilidade de não ter o artigo aprovado. De fato não foi. Até então, sem problemas. O problema, meus amigos, não é você receber um e-mail informando a não classificação de seu artigo e, sim, os termos utilizados para manifestar isso.
Eu não me abalei emocionalmente nem um pouco com a resposta e os termos usados no e-mail de resposta, porém minha mentorada se frustrou e se sentiu mal, mal de verdade, se achando uma incompetente. E a forma como ela reagiu me fez pensar: se existe alguém para avaliar artigos, deveria existir alguém para revisar os e-mails de resposta aos não-classificados, correto?
Pois é, mas creio que não. Infelizmente conheço várias pessoas que compõem atualmente o grupo de pesquisadores em Secretariado no Brasil e não valeria a pena entrar numa discussão naquele momento. Contudo, calo que é calo sempre incomoda, não é, mesmo? E num desses incômodos, compartilhei o ocorrido com outros colegas, digamos assim mais aptos às ciências do que eu (coordenadores de curso) e qual foi minha surpresa ao ouvir a mesma indignação de uma amiga mestranda, que teve a mesma impressão ao receber um e-mail de reprovação de um artigo para uma revista científica da área?
Naquele dia deixou de ser uma impressão individual e passou a ser algo recorrente, imagino eu. A questão, minha gente, é apenas se seu trabalho segue o protocolo metodológico praticado pela promotora das publicações ou do evento, seja lá o que for. E o que tenho lido me faz questionar se o conteúdo, o traço humano dos textos não importam. Porque sempre vemos artigos e trabalhos aprovados com temáticas sempre muito parecidas, as mesmas que bombaram em eventos há dez anos atrás. Faço cara de paisagem.
Quem sou eu? Não sou mais estudante (não nos padrões formais, porque se disser que estudo por páginas de especialistas, canais no YouTube e de forma autônoma, certamente o Olimpo do Saber de alguma profissão me diria que isso não me caracteriza como estudante) porque no momento não estou matriculada em nenhuma graduação tampouco pós lato ou stricto sensu. Mas eu tenho quase doze anos de experiência profissional, tenho um livro publicado, tenho inúmeros artigos disponíveis em meu blog desde 2009, quase 40 vídeos postados no YouTube, outros artigos escritos em parceria com amigos, mas quem sou eu?
Será que posso ser considerada uma profissional digna de ingressar em um debate sobre o futuro da profissão? Já vi muita gente se sentir incompetente por causa de uma comunicação mal feita ao anunciar a não classificação de um artigo ou por sempre se sentir excluído de ambientes que deveriam ser atrativos e saudáveis para o debate de ideias. Só que não. Se você não leu a tese da maior especialista de sua área de atuação, nem ouse se pronunciar. O que está acontecendo com as pessoas?
E aqui cabem algumas perguntas que eu gostaria de fazer a quem decidiu seguir o caminho da construção do saber acadêmico:
1. Por que o Secretariado necessita ser uma ciência?
2. Para que vamos fazer ciência?
3. Que realidades pretendemos modificar com a ciência em secretariado?
4. Quais serão os atores envolvidos nesse processo?
5. Que pessoas conseguirão acessar esse conhecimento?
Eu realmente adoraria ouvir respostas para essas questões, porque se for para fazer o que já existia antes mesmo de o Secretariado nascer, eu não sei se conseguiremos construir algo melhor e mais otimista para a profissão.
Somos profissionais que nasceram para conectar pessoas, pensamentos, objetivos e a última coisa que estamos considerando nisso tudo é o caráter de humanidade que deveria ser a base dos relacionamentos. É por isso que a profissão não avança, é por isso que não somos valorizados, que não somos socialmente reconhecidos. E enquanto continuarmos criando castas internas esse fantasma sempre nos assombrará.
Que tal pensarmos o futuro propondo novas formas de modificar positivamente o cenário profissional?
*é exatamente este ponto que para mim ainda fica muito obscuro na produção científica atualmente praticada pelos colegas de profissão que são pesquisadores.
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Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.
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Amiga querida.
Seus textos são sempre inspiradores. Obrigado por compartilhar seus pensamentos com a gente e, acima de tudo, obrigado por nos causar a inquietude.
Infelizmente, ainda temos muito a refletir sobre nossa formação básica, mas felizmente existem pessoas querendo fazer isso.
Vamos que vamos e nao desistamos do secretariado.
Abraços,