A importância de fechar os ciclos
Amigos leitores,
Cá estou para bater um papo honesto com vocês e para compartilhar de coração e mente abertos minha decisão de encerrar minha jornada profissional na docência do ensino superior. Recentemente postei uma foto emblemática com uma de minhas turmas da graduação em Secretariado Executivo da UPIS, faculdade de ensino superior de Brasília. Foi uma foto daquelas dignas de se emoldurar (tanto que meus amados alunos emolduraram e a me entregaram como presente).
Depois da postagem da foto, recebi várias mensagens carinhosas e até preocupadas de amigos queridos que atuam ou não na área, querendo saber se estava tudo bem, que eu tinha o perfil de docente, que não deveria deixar esta missão. Senti-me muito, mas muito privilegiada por ter tantas pessoas significativas nesta área sinceramente preocupadas com esta decisão. E para que tudo ficasse claro e mais compreensível, eis a melhor maneira de dividir isso com vocês: escrevendo.
Este artigo fala da minha decisão, mas vai falar também de algo mais profundo: visão de mercado, foco no propósito, coragem e honestidade consigo mesmo. Desde que nasci me vejo fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Quando criança, gostava de estudar, brincar, desenhar, colorir e escrever. Adolescente, gostava de estudar idiomas, ouvir músicas que não eram comuns a pessoas da minha idade e sempre tentando andar alguns passos à frente. Minha mãe foi duramente criticada por isso.
Algumas pessoas me chamavam de “chatinha”, ou a menina que parecia mais adulta que criança. Certamente não fui uma criança muito travessa nem com muito perfil de criança (não sei se existe isso), contudo me mantive doce, amorosa e muito feliz. Esta semana, ao jantar com o marido na noite do feriado, assistíamos a um vídeo no canal da Endeavor no YouTube e ouvi o termo “next play” e entendi que eu sempre vivi projetando o next play, ou seja, a próxima jogada, o próximo lance ou o próximo passo em cada pequena e única fase da minha vida.
Tive que tomar a grande decisão da minha vida aos dezesseis anos, no meio do primeiro namoro de adolescência, entre ficar na minha cidade provinciana ou seguir adiante e construir outro caminho (acredite, sempre há outro caminho, depende de que lado que você escolhe ficar). Eu lembro que eu fechei os olhos um dia e pensei que seria a primeira vez que eu pensaria como uma adulta, alguém que tinha muitos sonhos e uma imensa vontade de fazer coisas diferentes e viver uma vida digna de ser contada como história para outras pessoas. Eu parti e nunca mais voltei.
Mudei-me para Brasília em 2013, com uma criança no colo, pouca bagagem pessoal e um marido me esperando para vivermos uma vida juntos (na mesma cidade, na mesma casa, já casados). Aqui eu sabia que meus sonhos tomariam forma, que meu nome seria conhecido e que eu poderia fazer muito por muitas pessoas. O centro do Brasil, um propósito a ser cumprido. Um livro, o meu primeiro livro.
Secretariado intercultural foi a consolidação do meu next play desde a infância. De tudo o que eu quis ser na vida, ser escritora já era uma realidade na minha essência. E em 2015 eu me apresenteo oficialmente a Brasília e naquele mesmo ano meu livro me levou a faculdades em Brasília, ao Pará, à minha cidade natal onde pude conceder uma entrevista a uma rádio local e proferir uma palestra e a Curitiba.
Foi ano do meu ingresso na docência. Meu livro chegou antes de mim a uma referência no Secretariado Executivo do DF, Simara Rodrigues, e como no livro Tipping Point, do jornalista canadense Malcolm Gladwell, a teoria de que você não precisa de muito esforço e, sim, da pessoa certa na hora certa, Simara me abriu portas e eu participei de um processo seletivo na UPIS.
Fui aprovada e comecei outra missão, talvez a mais nobre e complexa que existe neste mundo. Responsabilizar-se por transmitir conhecimento e provocar a construção do saber é a tarefa mais árdua, gratificante e menos reconhecida que se tem. Abracei, abracei até demais. A dose pesou, mas eu segui firme e confiante de que no final tudo daria certo. Minha família sentiu o peso também, afinal de contas, em 2016 eram 3 noites fora de casa, com uma bebê de dois anos… Um marido exemplar que cuidava do jantar, da nossa filha e precisava pensar em respostas siaves a questionamentos indecorosos sobre nosso estilo de vida e sobre uma esposa que mais passava tempo fora de casa… Nunca nos abalamos com isso, somos disruptivos em nossos valores, não levamos a sério o que pessoas no mesmo grade que nós pensam.
Dois mil e dezessete chegou cheio de expectativas, que se converteram em inúmeras realizações, além do que ousamos pensar para este corrido e impaciente ano. Em junho, o mês dos 30 anos, rompi a barreira da idade do sucesso, e repensei o que queria para as próximas décadas, que sempre sonhei nas décadas anteriores. Os trinta anos na vida da mulher representam um verdadeiro momento de decisão. O segundo semestre trouxe surpresas que me fizeram ver um futuro há muito tempo desejado, um cenário muito especial se formando diante de nós (meu marido – maior sócio de vida e carreira – e eu). O segundo semestre me trouxe situações onde eu vi o alcance que eu tenho, por meio do meu amor pelo que faço, por meio do que escrevo, de como me relaciono, de como acolho as pessoas.
E novembro chegou com um peso nas minhas costas. “Tenho sonhos adolescentes, mas as costas doem…” já diria a Sandy naquela dos 30. Uma noite, antes de partir para uma das últimas aulas, olhei nos olhos dele e disse: tomei uma decisão e gostaria de ouvi-lo: vou encerrar minha carreira na docência. Ele me olhou, arcou as sobrancelhas, fez uma breve pausa e respondeu: para você a docência é uma realização, você gosta muito de estar em sala de aula. Eu sorri e a resposta dele, sabiamente, me encheu de conforto, porque ele me lembrou o que me preenchia na docência. Eu retruquei: sim, sempre foi uma realização pessoal, mas quando não estávamos cumprindo nossa maior missão. Essa realização que a docência me traz também tem se materializado por meio das mentorias que faço. Pronto, me despedi e saí feliz, em paz e muito aliviada.
Uma boa história tem sempre começo, meio e fim. A minha história com a docência durou dois anos e nove meses. Talvez você diga ah, é pouco tempo, não deu nem para começar. Se você pensou algo parecido com isso, é porque você definitivamente não me conhece. Os meus melhores ciclos não precisam ser longos para serem intensos e significativos. O tempo é relativo. Como chronos durou muito pouco, enquanto kairós foi mais do que o suficiente e veio como um verdadeiro presente de Deus! Eu fui marcada para sempre com a realização de um dia ter feito a diferença na vida de algumas pessoas (daí uma de minhas inquietações com a docência, infelizmente por melhor que você faça seu trabalho, nem todos estarão abertos a receber o que você tem a dar e eu não consigo viver pela metade com nada nem ninguém). Da mesma forma sei que deixei algo meu nos meus alunos, até mesmo nos que não gostavam das aulas ou, até, de mim.
Encerro um capítulo muito, mas muito feliz na minha trajetória chamado “o tempo na docência” e prossigo escrevendo novos capítulos no tema “realizando os sonhos”, onde a cada dia estou mais feliz, focada e realizada pelo que a Iventys tem se tornado, tem ofertado e tem feito aqui nesta terra. Deixo a docência para seguir um caminho mais ousado, que vai exigir mais conhecimento, mais tempo e mais energia. E boa parte dela será direcionada para eu realizar este sonho. Além desta razão (que já seria boa o suficiente), há algo ainda maior. Mais do que ser uma referência profissional para pessoas, quero ser referência humana para aqueles que eu mais amo. Marido, filha, pais e sogros.
Depois que me tornei mãe entendi que sempre haverá tempo para a viagem dos sonhos, para o mestrado, doutorado, cursos, intercâmbios, festas, enfim… Só não haverá tempo para o primeiro passinho, a primeira palavra escrita, a primeira apresentação de ballet, o sorriso ao me ver presente na escola. Eu sei que o empreendedorismo consumirá boa parte deste tempo e energia, mas mesmo assim é o caminho que, além de estar na essência do que queremos deixar para o mundo, poderá inspirá-la a ser sempre algo maior do que as caixinhas desse mundo nos impõe. Sobretudo, minha família é o segredo do meu sucesso, da minha felicidade e da minha realização. Meu marido é o meu sócio em tudo e o meu grande mentor. Ele é capaz de me fazer pisar no chão ou ir aos céus com a mesma maturidade e bom senso. E de todos os ciclos que começam e acabam, a minha família é o único que se renovará além dos tempos. E isso só será possível pelo que construirmos juntos a partir de agora.
Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.
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