Amigos leitores,
O ano que se passou foi marcado, especialmente, pelo debate social (seja presencial ou virtualmente) em relação à liberdade feminina, seus direitos e seu espaço na sociedade. Sexta-feira passada meu marido e eu decidimos ir ao cinema e dessa vez a escolha era minha. Para minha alegria e alívio do marido, eu pesquisei os filmes em cartaz e vi que ainda estava passando “As sufragistas” e, definitivamente, este é o meu ano de estudar, pesquisar e refletir sobre Filosofia e Antropologia. O filme é baseado no movimento sufragista que eclodiu no Reino Unido no início do século XX.
O movimento sufragista faz referência à luta das mulheres para ter direito ao voto e este movimento eclodiu após a Revolução Industrial e a migração das mulheres dos campos para as cidades, uma vez que era necessária mão de obra para as indústrias. O filme é muito bem dividido e tem cenas muito marcantes como o recebimento do salário pela protagonista Maud Watts (Carey Mulligan), que trabalha com o marido em uma lavanderia. Ela recebia menos que o marido e trabalhava mais.
O filme conta o movimento liderado pela emblemática Emmeline Pankhurst, interpretada pela perfeita Meryl Streep, que fundou a Women’s Social and Political Union, entidade que rodou a Inglaterra provocando mulheres a lutar por seus direitos e, especialmente, o direito ao voto. O filme tem ainda Helena Bonham Carter no papel de Edith Ellyn, que era o braço direito de Emmeline e circulava o país em sua luta pelos direitos da mulher. Logo em seu início o filme traz um discurso preconceituoso e marcado pelo temor que as lideranças masculinas da época manifestavam ao refutar o direito ao sufrágio feminino: “Se lhes concedermos o direito ao voto, depois vão reivindicar presença no Parlamento.” (adaptado)
A mulher do início da urbanização trazida pela industrialização era uma mulher que começava a trabalhar desde criança e sofria diversos tipos de violência, inclusive a sexual, muitas vezes aceita pela situação de vulnerabilidade e pobreza em que vivia com sua família. Isso também é retratado no filme. As mulheres que participavam do movimento eram vistas como infratoras da moral, dos bons costumes e desonravam os maridos. A mulher do movimento sufragista não suportava mais ser violentada de todas as formas sem poder falar nada.
O filme mostra as origens de muitos de nossos preconceitos atuais, inclusive o de que uma mulher que sofre violência sexual pode ser a causa do abuso. A mulher era tratada como nada e já demonstrava muita força, poder e articulação e isso também assustava as lideranças masculinas da época. Eu tenho muita vergonha de alguns discursos carregados de ódio e machismo que ouço por aí e leio na internet. O tema da redação do ENEM em 2015 foi sobre a violência contra a mulher e o que mais vi foi gente preocupada se o governo estava usando as referências da literatura da Sociologia e Antropologia para doutrinar os alunos. Onde está o erro em lutar contra a violência direcionada a nós, mulheres?
Eu nunca sofri violência física de nenhum homem, inclusive nunca apanhei nem de meu pai. Mas tenho vários momentos da minha vida em que fui constrangida por homens por motivos diversos e no fim do ano passado fui seriamente agredida verbalmente por uma aluna, no meio do período que a ONU dedicou à luta pelo combate à violência contra a mulher. Infelizmente nós, mulheres, somos as maiores agressoras de outras mulheres. E isso realmente precisa parar. Precisamos ser solidária e manifestar compaixão da semelhante, que passa pelos mesmos dramas (ou piores) e dilemas que nós. O fim do machismo deve começar entre as mulheres, primeiramente, para que o mundo passe a entender que temos tanto direito de nos manifestarmos sobre diversos assuntos quanto os homens. Quanto a este tópico, outro filme bem indicado é “O sorriso de Mona Lisa”, de 2003, protagonizado pela Julia Roberts.
Será que é mais interessante continuarmos sendo caladas e coagidas enquanto lideranças fundamentalistas crescem no país e ganham admiradores e adeptos? Não! Não devemos calar e começar o ano com este filme só me encheu de energia para manter uma postura solidária e em defesa dos direitos do ser humano e da mulher, ainda como minoria, mesmo após a conquista do direito ao voto, mesmo após a conquista (ainda que parcial) do direito à licença maternidade de 180 dias e mesmo após quase um século de lutas por nossos direitos.
Recomendo o filme e recomendo a reflexão sobre os valores que nos bombardeiam diariamente!
Abraços e ótima terça!
Marcela Brito sou eu: secretária executiva trilíngue, esposa, mãe, consultora de carreira, empreendedora, escritora, blogueira, professora, eterna aprendiz e uma mente que não para de pensar em construir um bom legado para nós e os que vierem depois de nós.
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