Blog

Convivendo com a diversidade

Amigos leitores,

Eu já estive do outro lado. O lado que milita na internet, mas que também já saiu às ruas. Depois de umas boas saculejadas do marido, que insistia em dizer “quer militar, filie-se a um partido, faça mestrado e doutorado em Ciências Sociais, vá para as ruas…”, resolvi calar. Não o silêncio dos inocentes, tampouco o dos ignorantes. O silêncio dos prudentes. Mais uma vez ele estava certo.

Então, agora observo. E todos os grupos sociais, tanto no mundo real quanto no virtual, parecem um verdadeiro campo de batalha, onde amizades se desfazem, a paciência não existe, tolerância não consegue chegar e o que importa são as próprias convicções e olha que nesses dias é perigoso até usar a palavra convicção.

Cada um vive sua própria realidade e em um país como o Brasil, onde o sistema educacional é extremamente frágil, onde as relações se baseiam exclusivamente em interesses, fica muito difícil entrar em qualquer debate político. Se você defende as cotas das minorias (como eu defendo), você recebe um rótulo de pessoas que creem firmemente que as oportunidades são iguais. E falar sobre um assunto delicado desse com quem viveu uma realidade favorável não compensa.

No Brasil temos o péssimo hábito de não interagirmos com aquele que é diferente. Eu sou filha de um negro com uma paraense (dois grupos no Brasil que sofrem ataques constantes de preconceito), mas nasci no Sudeste e, ao tomar a decisão de estudar no Norte e morar com meus avós maternos, ouvi de professores meus do interior do Rio de Janeiro: por que você está fazendo o caminho inverso ao desenvolvimento?

Fiz o caminho correto, que combina comigo, fui resgatar parte do meu DNA, fui me conhecer mais convivendo com a diversidade que corria no meu sangue, mas que na experiência eu não havia vivenciado. E imergir na diversidade, aprendemos a lidar e a confrontar nossos próprios preconceitos, aprendemos a sentir a dor do outro, a ver o outro pelos olhos dele, a dançar a música do outro, a amar as cores do outro e a amar o outro.

Conviver com a diversidade faz a gente crescer, faz a gente ser melhor, faz a gente querer que todos vivam a diversidade, a respeitem e se permitam, sim, mudar de opinião, de posição política e social. Estar do lado dos que sempre sofreram desvantagens é estar do lado de si mesmo, porque na roda da vida, nunca se sabe onde estaremos.

E para os que apostam na meritocracia, entendam que o esforço que uma pessoa pobre no Brasil precisa fazer para chegar a um determinado patamar não é, nem de longe, similar ao esforço de uma pessoa da classe média. É injusto mencionar algo desse tipo e tentar tecer qualquer comparação.

Falta conhecimento tácito, falta conhecer os lugares marginalizados da sociedade onde estamos todos inseridos, falta interagir, falta sentar, comer e beber com os que não fazem parte do nosso círculo, falta viver, falta ir até onde ninguém vai.

Conviver com a diversidade é o caminho para a compreensão do outro, mas isso exige uma disposição que é muito menos atrativa do que visitar outro país, comer em bons restaurantes ou estar na companhia frequente daquele que amamos e que concordam conosco a maior parte do tempo.

Mas este exercício e convite está aberto a todos nós, inslusive para mim. Neste sentido, minha gratidão ao meu marido, que me levou a conhecer lugares que eu certamente não iria por minha própria motivação e ao meu amigo Jefferson Sampaio, que reavivou em mim este valor e o amor que sinto por poder estar perto daqueles que querem aprender e tem fome pelo crescimento genuíno.

Vamos conviver com o diferente, abrir nossas mentes e construir, juntos, uma democracia real, onde os direitos e os deveres sejam igualmente cumpridos e levados a sério por todos, sem distinção de cor, gênero ou partido político.

98/365

Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.

www.facebook.com/SecretariadoIntercultural
br.linkedin.com/in/marcelabrito
www.twitter.com/marcelascbrito
Instagram: @marcelascbrito
Youtube: http://www.youtube.com/marcelasconceicao
Instagram: @marcelascbrito

Comentários (1)

  1. Marcela,

    Esse texto hoje me deixou, sinceramente, sem palavras.
    Integro várias minorias (sou mulher, negra, protestante, “solteirona”, sem filhos, então entendo, perfeitamente, o entrave que muitos tem em conviver com as diferenças, com a diversidade.
    Você citou o Jefferson Sampaio, e eu não resisti e fui procurá-lo na internet e me deparei com uma pessoa sensível, humana e muito inteligente.
    http://www.jeffersonsampaio.com/
    Obrigada, Marcela, por favor, continue nos enriquecendo com o seu trabalho.

    Um abraço super apertado,

    Keysa Oliveira

Deixe um comentário

Marcela Brito - 2009-2021