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Amigos leitores,

Bom, se você pensou que eu fosse abordar o jogo político no cenário brasileiro, lamento dizer, mas você se enganou. Não, amigos, quero falar da vida que pulsa, das pessoas que brindam conosco, riem conosco, adentram nossas vidas e nos cativam. As mesmas que se colocam em posição de referência e que todos idolatram. Eu tenho medo da palavra idolatria.

Eu nunca tive ídolos, nunca construí este tipo de laço com ninguém. Eu conheço as pessoas porque me conheço bem e conheço a natureza do coração humano, conheço os bastidores, as conversas sussurradas, as intenções por trás de belos sorrisos e olhares inocentes. Eu conheço. Eu tenho lidado com isso ao longo de uma vida. Cansei. Estes tem sido dias muito difíceis, pesados, de baixa de energia, de confrontar meus fantasmas e de não guardar mais isso para mim.

Minha válvula de escape são as palavras, é a possibilidade de gritar o que dói, de expor a dor, de mostrar a carne viva e de não aceitar alguns paradigmas construídos sobre falsas pessoas (observem, falsas pessoas, pois não fomos criados para sermos tão baixos, tão frios, tão calculistas).

Dois mil e dezesseis. Segundo semestre. Conheci um projeto em Brasília. Identifiquei-me. Reconheci-me. Busquei fazer parte, ser parte daquilo, daquele movimento. Ingressei ao grupo. Reuniões virtuais, trocas de mensagens, apoio mútuo, pessoas de vários lugares do país e de fora dele e uma data, um evento. Veio o convite: inspirar mulheres, inspirar pessoas. Aceitei.

Tudo esquematizado. Eu tinha vínculo com uma IES e isso foi aproveitado para que o projeto fosse amplamente difundido. Pura felicidade, bom ver as coisas dando certo. Passaram-se dias, semanas. Eu estava em um almoço com uma amiga do Rio, que há anos não via. Estava muito feliz em estar com ela e recebi uma ligação. “Marcelinha, tudo bem? Você já assistiu ‘House of Cards’?”.

Acredito que se você não assistiu, em algum momento vai assistir ou já ouviu falar. Um famoso seriado estadunidense que revela as tramas mais sujas da política nos Estados Unidos e o jogo de interesses que acontece. Depois dessa ligação, de um dócil convite para me retirar da programação, entendi o que move as pessoas, o que move alguns projetos. Frustrei-me por compreender que isso está impregnado de maneira tão profunda na essência das pessoas que não valeria a pena lutar. Pelo menos não naquele momento.

Dias depois vi a programação. Eu havia sido convidada para dar lugar a alguém mais influente, com mais acesso, com mais presença (talvez, tenho minhas dúvidas). Isso não foi informado. Despedi-me e retirei-me do grupo. Desejei sucesso, mas longe da minha história. E a maturidade ensina que tudo na vida é um ciclo. Começa e finda. Foi um semestre difícil e foi quando me dei conta de que eu não sou igual a essas pessoas. Eu não coisifico pessoas, eu não as uso, eu não as movo na vida e no trabalho como peças de um jogo de xadrez que eu nunca aprendi a jogar.

Eu sou diferente. Eu vibro, eu choro, eu abraço, eu cedo lugar, eu não sou do tipo que entra em um cabo de guerra, não meço forças. Não preciso, não faz meu perfil, não está em meu DNA. Adoro me retirar de onde não sou bem quista, bem vinda. E as últimas decisões profissionais e de vida tem exatamente tido relação aberta com essa minha linha de raciocínio. Eu sei quando alguém me vê como oponente, como ameaça. Eu leio no olhar, nas meias palavras.

Só que eu busco o oposto. Eu busco união de forças, união de energia, olhar de amor, de celebração, de torcida. E então veio Curitiba, veio São Paulo e veio outra Brasília que eu não conhecia nas pessoas de gente talentosa e inteligente que vive e faz a diferença fora dos ícones midiáticos digitais da Geração Z. Escrever este texto me liberta de um dor e decepção que eu não consegui concluir dentro de mim.

Este texto apresenta alguém que decidiu questionar, por meio de palavras, o que está acontecendo com as pessoas? Por que decidiram usar o outro como escada, como ponte para benefício próprio? Estou cansada. Tem sido dias muito pesados, entretanto eu fui avisada. Quando escolhi viver dessa maneira, expondo um trabalho feito com amor, um trabalho fruto de sonhos, horas de estudo, boas conversas e ideias originais, eu já sabia que seria dessa forma.

São dias carregados, mas é o momento que eu encontro um meio para lidar com a coisificação de pessoas, conviver, jamais aceitar, mas tentar enxergar o que há por trás disso. Por enquanto. As pessoas não imaginam o poder que possuem de fazer bem ou mal ao coração de alguém. Eu não tenho mais quinze, estou rumo aos trinta e um e não vou chorar sozinha no quarto. Seguirei adiante fazendo o que eu sempre fiz. Não há nada tão forte quanto a constância, quanto a regularidade, quanto a verdade, quanto a personalidade.

No House of Cards da vida eu aprendi que posso conviver com todos, mas que devo me associar àqueles que, em sua diversidade, ainda se mantêm dignos o suficiente para priorizarem a ética e o respeito à natureza moral do outro. Estudar sociologia faz diferença e, nesses dias de chumbo, espero que não retirem essa disciplina do ensino básico brasileiro. Todos nós devemos ter direito de aprender sobre nós e o outro. O outro sou eu e eu sou o outro.

No House of Cards da vida real eu sou mais uma pessoa invisível que continua a ler pessoas e observar discursos, posturas, comportamentos e ações nos bastidores, sem grampos telefônicos, sem gravadores e sem câmeras. Fica tudo na minha consciência.

92/365

Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.

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