A cultura determina a ação
Amigos leitores,
Na palestra da Bárbara Barbosa, consultora de inclusão de profissionais com deficiência no mercado, mencionada no artigo anterior, um de seus convidados disse que não é a legislação que muda a cultura e, sim, a cultura que muda a legislação. Ele mencionou isso no contexto em que ela explicou que, apesar do cumprimento da lei sobre destinar
vagas a cargos públicos a pessoas com deficiência.
E nesse gancho para falarmos sobre o quanto a cultura determina as nossas ações, é interessante abordar algo que tem estado em pauta em todos os ambientes de discussão: a mudança que desejamos e não promovemos de fato. No Brasil temos um comportamento, certamente advindo de nossa origem histórica escravocrata, voltado a destacar e a enaltecer tudo o que vem de países chamados “países de primeiro mundo”. Admiramos tudo o que vem da Europa, Estados Unidos e países asiáticos desenvolvidos, porém muitas vezes não fazemos a menor ideia de como funciona o regime econômico político, social e a construção histórica desses países.
Um exemplo ilustrativo para esse nosso traço cultural é o chamado complexo de Gulliver, conceito que eu conheci por intermédio da minha amiga brasileirinha que vive em Hamamatsu, no Japão, Cláudia Eleutério. O complexo de Gulliver, em suma, é nossa estranha mania de se sentir superior em relação aos nossos vizinhos latinoamericanos e nosso mais estranho hábito de se sentir inferior aos estadunidenses e europeus. Sonhamos em ter uma economia acelerada, uma sociedade mais justa, menos carga tributária, equidade nas relações de gênero, acesso à saúde, educação e segurança. Mas não queremos pagar o preço e moldar nosso comportamento e ajustar velhos hábitos para isso.
É um paradoxo. Queremos avançar para uma sociedade evoluída, de mente aberta, onde podemos fazer o que queremos e sermos quem pudermos ser, mas com a atitude diária e a mentalidade de nossos colonizadores aristocratas. Adoramos impor os limites que demonstram o quanto temos mais do que os demais, o quanto temos uma posição superior e na primeira oportunidade, exercemos nosso poder político para fazer outros se curvarem segundo nossos desejos.
Pessoas que tem a oportunidade de viver ou que já viveram por um período no exterior (países desenvolvidos) tem uma visão muito diferenciada sobre como são esses países, portanto, no afã de desejarmos tudo e melhor que esses países oferecem, é necessário, sobretudo, compreender como pensam, se comportam e se relacionam seus cidadãos. Será que estamos preparados para aceitar, de fato, uma sociedade mais igual, aberta e democrática, ou queremos apenas o “glamour” de viver no velho mundo?
É totalmente possível termos esta essência aqui, mas precisamos, como país e sociedade, estar dispostos a abrir mão de privilégios que impedem o avanço de conquistas em todos os campos. E isso é difícil porque estamos em uma zona de conforto que nos garante posições de poder das quais, quase sempre, não queremos nos desapegar.
Para reflexão…
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Marcela Brito sou eu: muitas mulheres, muitas facetas, uma só identidade. Alguém com missão, paixão e coragem.
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